sexta-feira, 25 de junho de 2010

(des)encontros

“Ah, a vida!”.
Encostada em uma árvore num campo meio aberto, uma pequena garota de cabelos loiros a deslizarem sobre seus ombros, como numa dança ao som do mais belo riso dos ventos, estava a pensar. Seu rosto tinha uma expressão nostálgica, e seus olhos azuis brilhavam em vermelho, da cor do céu de mais um pôr-do-sol.
Ali, a imaginar o dia mais feliz de sua vida, o dia em que sonhava poder finalmente abraçar a quem a esperava, e então nos braços dele poder dizer tudo o que sentia, o quanto rezou para aquele dia chegar, o quanto queria que aquele momento fosse eterno. Fazia planos, inventava mil maneiras diferentes de surpreendê-lo quando o dia chegasse. Queria enfim, parar de apenas sonhar com momentos como aquele e vivê-los um por um, em todos os detalhes.
Mas não podia mais. A vida lhe tinha sido má, e não cansava de lhe pregar peças. Agora só teria consigo as lembranças de algo que nunca aconteceu. Não mais teria a chance prometida, não mais conseguiria cumprir suas promessas e juras apaixonadas. A idéia do “pra sempre” então havia acabado.
Como esquecer as palavras doces e singelas? Como enterrar um sentimento que lhe fazia arder por dentro, que a fazia sentir-se diferente, única?
Como aceitar a idéia terrível do fim?
Quando recebeu a derradeira notícia: “Ele já não está mais entre nós”, não conseguiu se mover por uns instantes. Atônita, pegou todas as cartas recebidas, todos os presentes e fotos, e saiu pela porta de sua casa, sem nem mesmo saber para onde ir.
Caminhou por horas e horas, quando no fim da tarde encontrou este bosque de beleza inimaginável no qual se encontrava desde sabe-se lá quanto tempo. A brisa acariciava seu rosto triste. As folhas caíam ao chão para lhe fazer companhia em meio a flores que se prestavam a consolar a pequena menina, de cabelos agora alaranjados graças ao Sol que descia para dar lugar à noite. Sentou-se próximo a uma grande árvore. Via o rosto dele em todas as nuvens que olhava.
E então chorou. Gritou, levantou-se e correu. Depois de um tempo, cansada, deixou-se cair por entre as flores. Suas lágrimas quentes percorriam seu rosto. O céu, companheiro, chorou juntamente com ela. A chuva se misturava com suas lágrimas, e então chorou mais e mais. Não entendia por que aquilo estava acontecendo com ela, por que estava sendo privada daquela felicidade, e o que enfim ela faria dali para frente.
A chuva aumentou.
A tristeza e a dor se juntaram, viraram ódio.
Agora, suas mãos sujas de barro arrancavam as flores que estavam ao seu lado com ferocidade. Gritava, urrava que nada mais merecia a vida, nada mais merecia ficar de pé. Desesperada e apavorada, via raios e trovões cortarem o céu profundamente e caírem por algum lugar próximo. De seus braços, o sangue brotava, graças aos espinhos das flores que ela continuava a arrancar.
Sua face agora era de uma expressão amarga, insana. Era capaz de qualquer coisa naquele momento, havia deixado seus pensamentos e sentimentos destruidores tomarem conta. Já não sentia dor, tristeza, medo.
Gritou com a alma o mais alto que pôde tudo o que já havia pensado em fazer antes. Tateando seu bolso, sabia de algum modo que aquele objeto que havia levado com ela lhe serviria para algo.
Já não chorava mais.
Com um sorriso estranho no rosto, pegou o que sobrou de si e caminhou. Andou até aquela mesma árvore onde havia assistido ao crepúsculo. Ela estava em chamas! Um dos raios a havia acertado.
Seus olhos brilharam novamente.
“Já estou indo, meu amor”.
Foi quando cravou seu destino em seu coração. Num último instante, pôs-se a pensar, e pensar, e imaginar.
E sorriu seu último sorriso.
E derramou sua ultima lágrima.
E caiu ao chão sua última gota de sangue.
Rosas vivas, banhadas num tom vermelho-escarlate.
Um funeral perfeito.



Ah, a vida.

2 comentários:

  1. Estou ansiosa, quero ver como vai ficar essa short story... de fato vou ter um ataque quando ler tudo...

    aaah a parte 1 acho que já li na tua casa não foi.. me parece familiar!!!

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  2. E aí amizade?!
    Sabia que não tinha visto tudo ainda ;D. Muito bom hein, meus parabéns. É verdadeiramente uma pena que a vida prática e suas experiências banais suplantem experiências como esta (if you know what I mean ...).

    Abraços e como disseram "keep the good job"

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