terça-feira, 15 de março de 2011

O Passeio de Sarah

Em um campo aberto, Sarah corria alegremente; seus cabelos dourados balançavam desordenadamente, parecendo acompanhar o passo de seu vestido turquesa; ainda não acreditava que tinha chegado a Bloomsfields a tempo de sentir o calor do sol da primavera e o perfume das rosas a desabrocharem. “Um verdadeiro paraíso!” dizia para si mesma a todo o momento.

Realmente havia algo de paradisíaco naquele lugar: um parque que mais parecia um jardim imenso, com a grama muito bem aparada e flores das mais diversas cores. Havia também árvores grandes e pequenas — sendo algumas frutíferas —, que formavam uma fila perfeita; escondido atrás delas, um riacho de águas calmas e cristalinas fazia um barulho suave. Os olhos de Sarah brilhavam e sua vontade era de que o tempo simplesmente não passasse, ou que não precisasse voltar pra casa tão cedo, ou que, se possível, seus pais se mudassem para Bloomsfields para sempre!

Perdida em meio ao grandioso jardim, ela encontrou um local propício para cear e sentou-se na relva. Banqueteou na presença de esquilos, à sombra de uma árvore alta cujo fruto era doce e macio. Após comer, encostou-se no tronco da árvore e se permitiu relaxar por uns instantes. Com o clima propício e a calmaria ao seu redor, dormiu.

De repente, ouviu um barulho estranho. Assustada, Sarah esfregou os olhos e tentou identificar de onde o som vinha. Percebeu que já era noite e temeu pelo caminho escuro que deveria fazer para voltar ao local onde seus pais estavam. Ouviu outro barulho muito próximo a ela. Tentou ficar de pé, mas, de súbito, o chão começou a tremer, fazendo-a cair imediatamente. Desesperada, pôs-se de pé da maneira que pôde e tentou correr para algum lugar seguro, mas o que viu em seguida a fez ficar estagnada: o chão estava se partindo em dois, e um imensurável penhasco se formava à sua frente, afastando-a do seu caminho de casa! Sem acreditar no que estava acontecendo, permaneceu ali parada, pensando em alguma maneira de contornar a situação.

Ouviu-se, então, uma explosão. Vinda da fenda, uma enorme cortina de lavas se levantou, resultando numa chuva flamejante que começava a incendiar as árvores do local que antes era um lindo jardim. Neste momento, Sarah se lembrou das histórias que ouvira sobre Bloomsfields ter sido construída no pé de um vulcão há muito tempo adormecido e tido pelos moradores da região como inativo para sempre.

Agora percebia que todos estavam completamente enganados no quesito inatividade.

Já não havia como voltar. Num misto de maravilha e terror, via as gotas luminosas cortarem o céu num espetáculo sem igual, queimando tudo o que tocavam. Sem ver outra saída, Sarah correu em direção ao riacho o mais rápido que pôde para não ser queimada pela atípica chuva, atirando-se nele e batendo pernas e braços assim que caiu na água.

Mas esqueceu-se que não sabia nadar.

Seus braços e pernas cansaram, e viu-se em completo desespero ao tentar se manter na superfície. Havia se afastado da margem graças ao esforço inicial que realizou e agora estava exatamente no meio do córrego. Com todo o ar que ainda tinha nos pulmões, gritou o mais alto que conseguiu para pedir socorro. Não houve resposta. Então, segurou o ar restante, à medida que via seu corpo afundar mais e mais nas águas fundas daquilo que outrora lhe havia causado uma grande sensação de paz e tranquilidade.

Vendo que não podia mais aguentar, Sarah cedeu. Soltou o ar e começou a engasgar incessantemente com a água que agora lhe enchia os pulmões. Em um último instante, pensou em como aquilo tudo pôde acontecer em um dia que tinha tudo para ser belo, único, lindo. Chorando muito, começou a tossir, tossir, tossir...

Acordou, aos prantos, engasgada com a saliva. Olhou em volta e viu que ainda estava embaixo da árvore perto do riacho e que o sol começava a se por. Limpou o rosto rapidamente e saiu correndo para o local em que seus pais, àquela altura, a esperavam preocupados, já que a garota havia saído para passear já fazia algum tempo.

Sarah jamais foi vista em Bloomsfields novamente e nunca mais ousou visitar uma região vulcânica.


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