quarta-feira, 13 de junho de 2012

Just a jealous guy (?)

Em uma de minhas caminhadas, lembro-me de ter encontrado um rapaz jovem, com um violão na mão e uma barba de respeito, apesar da pouca idade. Estávamos em um pequeno bar, e o vi tocando “Jealous Guy” no palco. Como eu gosto da música, fiquei prestando atenção enquanto ele tocava. Entre um gole e outro, reparei que suas feições mudavam a cada troca de notas. Ele realmente tinha uma sincronia interior com a música que tocava... Era fascinante!

Convidei-o para beber comigo. Ele então começou a contar um pouco da sua história. Disse que não tinha casa certa, e que muitas vezes dormia ao luar. Perguntei-lhe como ele conseguia sobreviver daquela maneira, e a resposta não poderia ser mais esclarecedora:

“Cara, esse negócio de sobreviver é muito relativo daquilo que você espera da vida. É tão simples e fácil ser feliz que às vezes fico rindo à toa daquela galera que insiste em se matar porque não passou na faculdade ou porque tomou um pé na bunda de alguém. Uns tantos ficam doidos buscando dinheiro, enquanto outros enlouquecem por ter grana demais. Agora me fala uma coisa: isso é felicidade? Seu objetivo também é se enjaular nesse tipo de vida tão manjada? Porque, fala sério, pra mim é muito pouco acordar, trabalhar o dia todo, voltar pra casa, dormir, e fazer o mesmo no dia seguinte, e no outro, e no outro...

Prefiro o mundão como minha casa, e não ligo se haverá teto hoje ou não. Olha só o céu, ó que estrelas lindas? Pra que um teto? Pra me privar de ver isso tudo aí? Não, não... Prefiro do meu jeito. Conheço gente nova todo dia, toco minha música, e de quebra ainda ganho uma graninha com isso. Não é muito, mas dá pra sustentar meus vícios e pagar a comida. Pode ser pouco pra você, mas pra mim é o bastante.”
Aquilo me atingiu como um tiro. Por um tempo, viajei naquelas palavras. Percebendo minha distância, o rapaz agradeceu o drinque e voltou a tocar seu violão:

I didn’t mean to hurt you.
I’m sorry that I made you cry.
I didn’t want to hurt you,
I’m just a jealous guy...


Just a jealous guy. Ele... ou eu?
--//--

Sentado ali perto, estava outro senhor, bem vestido e de boa aparência, que ouviu a toda a conversa que tive com o rapaz músico. Deu um último gole em sua bebida e virou-se para mim, dizendo em bom tom:

“Escuta, esse cara é doido! Você ouviu as merdas que ele falou?”. E continuou:
“O que você acha de tudo isso? Até parece que ele consegue viver uma vida sozinho, sem sonhos, sem destino, sem almejar chegar a lugar algum! O que é que nos move, senão nossos objetivos, nossa vontade de ir sempre mais longe? O que é que nos dá mais prazer que chegar em casa e encontrar as pessoas que você escolheu para viver ao seu lado? Que tipo de segurança você tem vivendo uma vida dessas? Que tipo de laços você faz? E o mais importante: de que serve viver todas essas experiências sem ninguém ao seu lado para compartilhar dos melhores momentos? Se o objetivo é ter história, de que serve se nunca haverá a quem conta-las? A vida não se resume a apenas subsistir.”

NOCAUTE! Lá estava eu no chão outra vez, me afogando naquele monte de pensamentos e opiniões divergentes. Os dois tinham seu ponto de vista e estavam certos de acordo com aquilo que acreditavam. Saí do bar pouco tempo depois, pensando se poderia – ou deveria – me encaixar em algum daqueles estilos de vida. Me vi sem saber se queria ser como o rapaz do violão ou como o homem refinado da taça de vinho.
Nesse meio tempo, melhor continuar com meu jeito, sei lá, todo assim, meio indescritível. É o que faz meus olhos brilharem por enquanto. Mas, definitivamente, coloco agora no papel o modo de vida daqueles homens justamente por não conseguir entende-los bem. Quem sabe, quando ler isso aqui novamente, eu possa compreender melhor o por que de eles serem tão diferentes e igualmente tão fascinantes.

3 comentários:

  1. Eu acho que eu faço exatamente o que o cara do violão faz... mas ao mesmo tempo cometo as mesmas ações do senhor do vinho tinto. Seria eu uma mistura de tudo?

    Vamos vivendo sem extremos por enquanto!

    Ótimo texto, consegui imaginar a cena :)

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  2. Alê, agora sim tem mais fotos da sessão 'não encoste nesse animal' hahahahaa

    Ai esse texto maravilhoso ♥

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  3. Ser indescritível pode ser a solução, desde que a dúvida seja evitada e a vida seja vivida.
    Acho que é uma questão um pouco cultural,perspectiva.
    Tu escreves tão bem! Adorei teu blog, cheio de paz e harmonia (:

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