quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Heartache is a cold place

[Para ouvir enquanto lê: http://www.youtube.com/watch?v=ZyYCuLMBntU]



Eu ainda guardo conversas nossas dos tempos em que nos conhecemos e dos tempos em que éramos completamente conectados. Nos dias passados em que um completava o pensamento do outro. Acho que você também deve se lembrar disso.

Em meio a infinitos sentimentos, desvendávamos mistérios e desafiávamos a realidade. Encarávamos nosso próprio mundo. Fazíamos histórias e relutávamos a terminá-la apenas para não dar fim às vidas de nossos personagens, que então já se tornavam os nossos favoritos.

Quando saíamos, seus cabelos brilhavam ao sol. Seu aparelho dava um toque inocente ao sorriso que sempre dava após qualquer piada boba, ou após eu perder as palavras quase todas as vezes em que o azul-céu de seus olhos me encarava.

Você me quebrava de maneira tão simples! Me desestabilizava, me tirava o chão e me levava às nuvens. Perdi as contas das vezes em que me pegou sonhando acordado enquanto contávamos estrelas, deitados na grama de seu quintal. Nesses momentos, era como se fôssemos os únicos habitantes desse planeta.

E o mundo parecia tão pequeno.

O tempo não parecia ter fim.

Hoje, quando vou aos nossos pontos de encontro, ainda tento encontrar seu rosto em cada pessoa que passa por mim. Ao olhar pro céu, vejo que está quase do jeito que a gente se acostumou a vê-lo.

Quase.

Agora percebo que a beleza de tudo se foi junto contigo. Passaram-se anos, e só consigo pensar que o brilho das estrelas era, na verdade, o reflexo de cada parte de seu aparelho. Você sorria, as estrelas brilhavam. Você me olhava, a lua se enchia. Você me abraçava e eu implorava para noite não ter fim.

Seu exemplo está em todo lugar. Em mim, por inteiro. Tento ser mais calmo, mais alegre, viver com mais leveza, enfim. Assim como você fazia. Assim como tantas vezes você me sugeriu viver. Seus dias eram pluma, enquanto eu, cinza e pesado, trovejava o stress do trabalho e da rotina.  Então nos víamos, e você me inundava com sua simplicidade.

E tudo passava.

E sempre antes de ir embora desses mesmos lugares, dou mais uma pequena olhada para todos, numa esperança ínfima de você estar ali, na mesa ao lado, lendo seu livro favorito. Perdoe minha memória, mas qual era mesmo? Lembro do seu jeito entusiasmado de falar sobre as obras de Zusak e de Hosseini, mas sinceramente não lembro qual delas te fazia voar mais alto.

Em meus caminhos para casa, sinto de perto a sua falta. Ela faz silêncio todos os dias, e me faz viver essa irrealidade na qual perco o senso do que é memória e do que está de fato acontecendo. Preciso, de vez, entender que você não está mais aqui.

Afinal, essa foi a sua escolha.

Você resolveu ir. Era indomável, quem poderia te segurar? Você quis, e não houve ninguém que pudesse se por à sua frente. Essa sua personalidade foi o que sempre me chamou mais atenção em ti. Se você queria algo, simplesmente ia e fazia acontecer. Só é uma pena que as coisas tiveram de terminar dessa forma. Logo para ti, pequena rosa vermelha.

Você gostava de rosas, né? Trouxe essas para você. Quantos anos você faria hoje?

Já nem sei mais. Talvez seja melhor eu ir embora. Deixarei as rosas encostadas em sua lápide.





Até algum dia, quem sabe.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Ode à Moleira, Taís. (Farewell, my friend!)


Hoje eu dou adeus à minha irmãzinha. Ela vai pra bem longe, lá pra onde os sonhos viram realidade. Talvez eu nunca mais a veja.



Sinto-me dividido. Triste, por não ter mais por perto alguém tão incrível, tão brilhante, tão cheio de vida e de sonhos. Por não ter minha confidente, minha companheira, a menina que teimava em viver praticamente as mesmas coisas que eu. Contudo, jamais me senti tão alegre por vê-la assim: temerosa, porém radiante! 

Pronta para o que está por vir, levando a calma de sempre e a cautela de outrora. E já a imagino caminhando pelos campos verdes e pelas ruas magníficas de onde agora vai morar, e já me enciúmo com seu mais novo melhor amigo.

Oras, também tenho ciúmes, ué.

Mas sei que ela vai se dar bem. E sei que não vai parar por ali. Tão pequenina e com sonhos tão gigantes. E intensos. E mágicos. E emocionantes. Vai sim, vai se dar bem. Quando esse frio na barriga passar, você vai estar de boa, curtindo o novo ar que te rodeia e contemplando a nova vida que se apresenta bem à sua frente. E então, corra para ela! Você a construiu, você a merece!

(Desculpa, não vou conseguir conter o choro).

Eu vou sentir tua falta, pequena.  Não vou esconder isso de ninguém. Choro mesmo, sou meio fraco pra essas coisas de dar tchau a quem se gosta. ^^ Mas ó, você me conhece. Eu vou ficar bem, e torcendo cada vez mais por você. E mais, e mais... Sempre! A cumplicidade que criamos não vai se perder, nem essa minha vontade de querer cuidar de você, de te dar broncas, de te aconselhar, de ouvir seus conselhos, de rirmos juntos.

Como já sabe: precisando, estarei aqui! Basta gritar que eu tento te ajudar de alguma forma. Como nos tempos da facul, “é nóis”, sempreeee!

Agora vai lá e realize seus sonhos. Tô na primeira fila, pra ver tudo de perto e ser o primeiro a levantar pra aplaudir.

Por fim, citando a mim mesmo, amizade é um misto de doçura e loucura que, de fato, adoro sentir! =)



Tonight, the stars shine only to you.


Com todo o amor do mundo,

Alêénóis.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Ø


Os pedaços de papel no chão dessa cidade imunda ainda são pouco para que eu (d)escreva o que agora sinto. É como se nada conseguisse traduzir toda a lava que minha mente em erupção cospe. É possível ver a névoa na qual me encontro em toda minha angústia a quilômetros de distância.

Venho procurando maneiras de curar minhas asas que já não fazem nem minha imaginação voar. É como se precisasse renascer para trazer nova cor ao cinza dos meus olhos, por mais que seja apenas o reflexo desse céu que insiste em chorar e esfriar minhas já escassas tentativas de manter aquecida a esperança.

Enquanto isso, perambulo ladeira abaixo. Pessoas vêm e vão. Esbarram em mim — sou invisível. Mas nem me dou ao trabalho de me revoltar. Elas não vão voltar, nem se virar, nem se desculpar. Xingam baixinho e seguem, cegos.

Os pensamentos insistem em não levantar voo e, tentando êxito, tropeço. Caio. Estilhaço-me. Coração em mãos: não posso perder nenhum pedaço meu! Tateio as proximidades e recolho o que de mim não foi levado pelas lágrimas ácidas que caem das nuvens. Névoa à minha volta, por toda parte.  Não acho mais nada, e me perco.

Mas toda essa lamúria só será mais um pedaço de papel na rua. Mais um pensamento sem-teto para que cegos esbarrem, chutem, desapercebam. O vulcão já adormece, cansado de destruir o que me contorna, tornando temerosa minha presença. Irônico pensar nisso, quando me vejo indefeso e incapaz de machucar a mim mesmo. A não ser por palavras.

Ah, as palavras. Elas, só elas, me levam ao céu.



Cinza. Como os olhos. Como o dia. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Just forget the world




"As coisas aconteceram rápidas demais. Agora estou sem saber por onde ir, nem o que fazer. Devo ficar parado e esperar, ou devo correr o mais rápido que posso? Se correr, onde vou chegar? Se ficar, o que dizer?”

A pressão parecia dissipar todas as ideias racionais de Alexandre, que mais queria fugir que ficar. Ao mesmo tempo, sabia de seus deveres, suas responsabilidades. Era como se quisesse ir embora para lavar a alma, mas voltar para encarar a vida de frente. Buscava como louco uma solução para conciliar seus sonhos com sua realidade, mas já se via com poucas opções.

Observava sua cidade de longe, sentado numa pedra no topo de um pequeno monte. Gostava dali, pois era o lugar onde ninguém jamais pensava em procurá-lo. Sempre que ia lá, ficava sentado por horas, apenas clareando a mente e se encontrando consigo mesmo para colocar os sentimentos em dia.



A natureza do lugar também o fazia bem. A ideia de ver a cidade longe lhe trazia calma, pois se sentia fora daquele vaivém constante de pessoas irritadas em faróis, carros, metrôs, ônibus, calçadas. Não importava a idade ou ocupação: todos, sem exceção, corriam para não perder a hora, mas perdiam horas correndo da vida. Pensava ele que isso acontecia por medo de encará-la, de não saber vivê-la, ou mesmo de não suportá-la.

Mas Alexandre não era diferente. Por isso estava ali, tomando um ar para voltar à poluição.
“Talvez se eu escrever sobre isso, essa loucura passe um pouco...”

E assim ele usava a escrita: como mais uma de suas válvulas de escape, seu ponto alto. O papel se fazia de refúgio e também ali ele sentia que ninguém poderia encontrá-lo enquanto estivesse submerso em sua inspiração. Naquele dia, vomitou todas as palavras engasgadas em seu âmago. Escreveu até doer o pulso, e depois continuou escrevendo. Havia muito a ser falado e tão pouco já havia sido dito.

Mas rasgou o que escreveu depois.

Estava aliviado, era como se tivesse contado seus mais guardados segredos a alguém, com a certeza que esse alguém jamais falaria nada a ninguém. Pegou os pedaços de papel e os soltou ao ar. Dançaram monte abaixo, sem destino certo. O vento se encarregaria de levá-los onde quer que devessem chegar.

“Acho que é hora de eu descer também.”

Então, baniu de si o restante de sentimentos o que lhe importunava e jurou em todas as línguas que conhecia que acreditaria sempre em si mesmo. E aquilo deveria bastar.

“Precisa bastar. Não há outra opção”.

Levantou-se, encheu seus pulmões com o ar do alto daquele monte e iniciou sua jornada de volta. Sentia-se pronto, mais uma vez, para seguir em frente. Mas antes olhou pra trás, fez seu rotineiro gesto de agradecimento e seguiu.


Sabia que voltaria lá mais inúmeras vezes para recuperar o fôlego, mas não ligava. Naquele momento se sentia preparado e, de certo, já havia recuperado o que lá foi buscar:


A força necessária para poder continuar.

sábado, 4 de maio de 2013

Fragmentos


Desiludo-me com a realidade estática, e tento voltar às realidades ilusórias que, por mentiras, me fazem sorrir. Afinal, é mais fascinante perder o controle da mente a ter uma mente controlada.
Só mais uma vez; é tudo o que preciso. Experimentar a fuga para a paz. Fugir do corpo num só copo, fugir da vida num comprimido só.
Sorrir.
Se a sensação passar, que eu consiga ao menos lembrar.
E se eu pudesse prolongar? Fugir de vez, só pra me encontrar! Se eu tomar uma mão cheia de coloridos, acho que vai bastar.
Psicodelia colorida em vez de um céu cinza.
Me despeço daquilo que o mundo me fez.


Preciso de um fim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

À Procura (Parte 3)

[Não leu as partes anteriores? Clique aqui para ler a parte 1 e aqui para ler a parte 2. =)]



- Alô, Aline?
- Ah... Oi Sara.
- Tá tudo bem? Você vem trabalhar hoje? Já são 9 e meia e a minha parte do relatório já tá pronta. Só falta você terminar a sua parte e a gente já entr...
- Esquece isso! Preciso muito que você venha agora aqui.
- Agora? Mas, o que foi? O que aconteceu?
- Te explico depois. Por favor, pede algumas horas aí no serviço, eu tô precisando muito de alguém agora. Se eu ficar sozinha mais 10 minutos não sei o que sou capaz de fazer.
- Tá bom, tá bom! Vou avisar o chefe que você não tá bem e já tô saindo. Não faça nenhuma besteira! Tô aí daqui a pouco!

Desligo o telefone e começo a surtar. Afinal, eu só posso estar ficando louca! Ele logo vai chegar, com uma boa desculpa e já com ideias de onde iremos jantar à noite, ou falando sobre o que precisa fazer primeiro quando chegar ao trabalho. Sim, ele logo vai chegar. Ele logo vai chegar.

Ele logo vai chegar.

Por que ele não chega? Por que? Por que?

E se não voltar mais? E se me deixou aqui sozinha? 

Sozinha. Sozinha.

Minhas margaridas estão morrendo. Mas, de plantas, cuido depois.

- AONDE É QUE VOCÊ PODE ESTAR?

Alguém bate à porta. Abro rapidamente, e a Sara entra. Dar pra ver na cara dela que está meio chocada. Eu realmente devo estar parecendo louca. E sabe o que acabei de perceber?

"Daqui a pouco" é tempo nenhum quando você não está em casa.



---//--

Finalmente achei um lugar aberto para me reabastecer. A comida é barata e a água é gelada. Fazia horas que não comia nem bebia nada.

Devia ter me preparado melhor pra isso.

(Continua)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

À Procura (Parte 2)


7 da manhã. O despertador toca.

Você não está mais no quarto. Mas, tão cedo? Provavelmente está na cozinha, ou na sala. Vou ficar aqui e esperar você vir me acordar, dizer que vou perder a hora e provavelmente o trabalho se continuar atrasando todo dia, só pra sentir sua mão tocando meu rosto e seus braços me levantando da cama. Pelos pequenos raios de sol que passam pelas frestas da janela, imagino um dia sem nuvens lá fora.

10 minutos se passaram, você ainda não veio. Só pode estar no banho, ou vendo algo na internet, como sempre faz enquanto toma café. Fica ali, vendo fotos de lugares distantes e de paisagens bonitas. Você sempre diz que quer ir a todos aqueles campos, parques e florestas. Até acho bonito, mas, de flores, já bastam as do meu jardim, às quais costumo cuidar com zêlo. Ultimamente andam meio murchas. Não tenho tido tempo para elas como antigamente. Você sempre diz que preciso de mais tempo pra mim e para as minhas coisas, mas retruco dizendo que quem tem tempo demais acaba não sabendo aproveitar tempo algum.

7h15. Acho que vou levantar, pois provavelmente você está fazendo algo mais caprichado para o café da manhã e não teve tempo de me chamar. Estou tão disposta hoje! Talvez por ter dormido tão cedo ontem, logo após chegar do serviço. Nem vi a hora em que você veio deitar. Lembro-me apenas de te ver pensativo, à janela, com um olhar distante. Ultimamente, reparei que estava um tanto longe. Não perguntei nada, porque acho que logo vai passar. Sempre passa. Você sempre fica bem de novo.

7h30. Não posso esperar mais. Já estou atrasada. Você também. Por que não veio me acordar? Chego à cozinha e não há vestígios de você. Também não está na sala, nem no escritório, nem no banheiro. Seu carro está na garagem ainda. Estou confusa, onde você pode estar? Para onde foi sem mesmo comer alguma coisa? Suas roupas que separei para você usar hoje ainda estão no mesmo lugar. Não foi trabalhar?

Ligo em seu celular e não há resposta. Estou começando a me preocupar. Por favor, por favor... Aonde você foi? Por que está fazendo isso? O que tem em mente?

Passo novamente pela sala, disposta a pegar meu casaco e ir atrás de você. Contudo, algo me chamou a atenção... O computador está ligado! É mais uma de suas fotos, mais uma daquelas cidades longínquas com montanhas e trilhas bonitas que você já cansou de me mostrar.

Será que voc...


O barulho do celular tocando interrompe meus pensamentos.



(continua)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

À Procura (Parte 1)

Esforço-me para não deixar pegadas. Não quero ser seguido. Não quero que me encontrem. 

O céu está tão bonito hoje! Posso ver as estrelas com facilidade. Hoje elas cobrem o céu quase por completo. É incrível como isso me faz sorrir sempre, não importa o que estou passando ou o que estou sentindo. À minha direita, o mar. Posso ouvir daqui o barulho das ondas quebrando na areia; o reflexo da lua tremula na água, agitada pelas brisas de verão que nessa noite se fazem presentes.

As luzes dos postes relevam minhas sombras, únicas companheiras de caminhada, que crescem e diminuem a cada passo que dou. Então, paro.

Hesito.

Uma gota quente percorre meu rosto e toca meus lábios. O gosto salgado me faz olhar pra trás, e parte de mim quer dar meia volta, quer largar a mochila no chão e correr pra você novamente. Volto minha visão bruscamente para frente. Não posso voltar mais. Não agora. Cerro meus punhos, fazendo meu máximo para enjaular meus sentimentos, a fim de não deixá-los explodir e tomarem conta de mim, levando-me a fazer exatamente o que minha razão suplica para que eu não faça.

Respiro fundo.
Acalmo-me, enfim.

Olho para as placas, que indicam que não estou tão longe do meu destino agora. As estrelas continuam no céu. As ondas do mar ainda ditam o ritmo dos passos e a brisa parece querer me empurrar para frente. Junto o que restou de mim e volto a caminhar, convicto a não deixar pistas.

Ironicamente, pistas foram tudo o que te deixei.


(continua)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Learning to walk again


Damian costumava caminhar sozinho durante as noites de quarta-feira. Dizia que era o tempo que tinha separado para falar com ele mesmo durante a semana, só para acertar quaisquer mal-entendidos ou sentimentos distorcidos. Alguns o achavam louco por causa disso. “Sair pra falar consigo mesmo? Como pode?”, diziam.

Dias atrás, tentei imitá-lo. Saí sozinho, na intenção de filosofar sobre algumas pendências sentimentais que sempre deixava pra depois e acabava por não falar a ninguém. Depois de um tempo caminhando, já não conseguia mais me aturar! Percebi que reclamava muito, e que havia tanto a se vomitar, a arrancar de mim... Eu estava uma bagunça, tanto por dentro quanto por fora. Não sabia onde estava, quantas horas já haviam passado desde que comecei meu pequeno passeio solitário e por quantas vezes tive que parar para respirar fundo, olhar para o céu e segurar as lágrimas dentro de mim.

“Não vai ser fácil”, pensei. Voltei para casa, prometendo tentar de novo num futuro próximo. Colocar em minha frente tudo aquilo que quis esconder seria um exercício árduo, ainda mais se minha proposta era tentar refletir sobre as situações a fim de chegar a uma solução, ou mesmo uma simples conclusão.

Naquela mesma semana, tentei de novo. Dessa vez os pensamentos vieram mais claros, e as lágrimas também logo quiseram brotar. Percebi imediatamente que era tão egoísta comigo mesmo que nem me deixava chorar. Impunha-me muitas coisas, muitos modos, muitos meios. Ainda estava preocupado com o que os outros que passavam por mim pensariam. Então refleti: quando foi a última vez que eu fui eu mesmo, ou que um sorriso sincero saiu de mim, ou que minha voz proferiu exatamente o que queria falar? Estava na cara todo esse tempo e eu não tinha enxergado: não estava sendo dono de mim. Não estava me dando a atenção necessária, não estava sequer querendo me ouvir.

Sentei-me em um dos bancos de uma praça bem iluminada, sem muitas pessoas ao redor. Detive-me por instantes, mas resolvi: “Se me propus a falar, que ao menos eu me ouça.”
Ainda um pouco receoso com os arredores, comecei a falar. Primeiramente, fui quase inaudível, até que pude ouvir minha própria voz com clareza. Disse tudo o que quis, expus assuntos que me incomodavam, deixei as lágrimas saírem quando elas se represavam em meus olhos e até ri de erros bobos, que antes achava não tão bobos assim. As pessoas que passavam ficavam me encarando. Algumas riam, outras andavam mais rápido.

Devia mesmo parecer louco.

Horas se passaram, e quando me dei por mim o céu já clareava. “Realmente, havia muito a ser dito”. A noite passou despercebida. Voltando pra casa, senti-me inegavelmente mais leve. Funciona, então! Era possível que pouco mudasse a partir dali, mas já me sentia mais tranquilo por expelir tantos fantasmas que me acompanhavam. Dei-me muitos conselhos, ainda que, honestamente, não sabia se os seguiria. Ao menos algo em mim tinha parado de gritar, de empurrar, de me cansar.




Hoje é quarta de novo. E lá vai o Damian, com seu casaco, seu sorriso solto, seu olhar no infinito e seus cigarros no bolso.


De louco, ele não tem nada.