segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Learning to walk again


Damian costumava caminhar sozinho durante as noites de quarta-feira. Dizia que era o tempo que tinha separado para falar com ele mesmo durante a semana, só para acertar quaisquer mal-entendidos ou sentimentos distorcidos. Alguns o achavam louco por causa disso. “Sair pra falar consigo mesmo? Como pode?”, diziam.

Dias atrás, tentei imitá-lo. Saí sozinho, na intenção de filosofar sobre algumas pendências sentimentais que sempre deixava pra depois e acabava por não falar a ninguém. Depois de um tempo caminhando, já não conseguia mais me aturar! Percebi que reclamava muito, e que havia tanto a se vomitar, a arrancar de mim... Eu estava uma bagunça, tanto por dentro quanto por fora. Não sabia onde estava, quantas horas já haviam passado desde que comecei meu pequeno passeio solitário e por quantas vezes tive que parar para respirar fundo, olhar para o céu e segurar as lágrimas dentro de mim.

“Não vai ser fácil”, pensei. Voltei para casa, prometendo tentar de novo num futuro próximo. Colocar em minha frente tudo aquilo que quis esconder seria um exercício árduo, ainda mais se minha proposta era tentar refletir sobre as situações a fim de chegar a uma solução, ou mesmo uma simples conclusão.

Naquela mesma semana, tentei de novo. Dessa vez os pensamentos vieram mais claros, e as lágrimas também logo quiseram brotar. Percebi imediatamente que era tão egoísta comigo mesmo que nem me deixava chorar. Impunha-me muitas coisas, muitos modos, muitos meios. Ainda estava preocupado com o que os outros que passavam por mim pensariam. Então refleti: quando foi a última vez que eu fui eu mesmo, ou que um sorriso sincero saiu de mim, ou que minha voz proferiu exatamente o que queria falar? Estava na cara todo esse tempo e eu não tinha enxergado: não estava sendo dono de mim. Não estava me dando a atenção necessária, não estava sequer querendo me ouvir.

Sentei-me em um dos bancos de uma praça bem iluminada, sem muitas pessoas ao redor. Detive-me por instantes, mas resolvi: “Se me propus a falar, que ao menos eu me ouça.”
Ainda um pouco receoso com os arredores, comecei a falar. Primeiramente, fui quase inaudível, até que pude ouvir minha própria voz com clareza. Disse tudo o que quis, expus assuntos que me incomodavam, deixei as lágrimas saírem quando elas se represavam em meus olhos e até ri de erros bobos, que antes achava não tão bobos assim. As pessoas que passavam ficavam me encarando. Algumas riam, outras andavam mais rápido.

Devia mesmo parecer louco.

Horas se passaram, e quando me dei por mim o céu já clareava. “Realmente, havia muito a ser dito”. A noite passou despercebida. Voltando pra casa, senti-me inegavelmente mais leve. Funciona, então! Era possível que pouco mudasse a partir dali, mas já me sentia mais tranquilo por expelir tantos fantasmas que me acompanhavam. Dei-me muitos conselhos, ainda que, honestamente, não sabia se os seguiria. Ao menos algo em mim tinha parado de gritar, de empurrar, de me cansar.




Hoje é quarta de novo. E lá vai o Damian, com seu casaco, seu sorriso solto, seu olhar no infinito e seus cigarros no bolso.


De louco, ele não tem nada.


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