terça-feira, 11 de junho de 2013

Ø


Os pedaços de papel no chão dessa cidade imunda ainda são pouco para que eu (d)escreva o que agora sinto. É como se nada conseguisse traduzir toda a lava que minha mente em erupção cospe. É possível ver a névoa na qual me encontro em toda minha angústia a quilômetros de distância.

Venho procurando maneiras de curar minhas asas que já não fazem nem minha imaginação voar. É como se precisasse renascer para trazer nova cor ao cinza dos meus olhos, por mais que seja apenas o reflexo desse céu que insiste em chorar e esfriar minhas já escassas tentativas de manter aquecida a esperança.

Enquanto isso, perambulo ladeira abaixo. Pessoas vêm e vão. Esbarram em mim — sou invisível. Mas nem me dou ao trabalho de me revoltar. Elas não vão voltar, nem se virar, nem se desculpar. Xingam baixinho e seguem, cegos.

Os pensamentos insistem em não levantar voo e, tentando êxito, tropeço. Caio. Estilhaço-me. Coração em mãos: não posso perder nenhum pedaço meu! Tateio as proximidades e recolho o que de mim não foi levado pelas lágrimas ácidas que caem das nuvens. Névoa à minha volta, por toda parte.  Não acho mais nada, e me perco.

Mas toda essa lamúria só será mais um pedaço de papel na rua. Mais um pensamento sem-teto para que cegos esbarrem, chutem, desapercebam. O vulcão já adormece, cansado de destruir o que me contorna, tornando temerosa minha presença. Irônico pensar nisso, quando me vejo indefeso e incapaz de machucar a mim mesmo. A não ser por palavras.

Ah, as palavras. Elas, só elas, me levam ao céu.



Cinza. Como os olhos. Como o dia.