Jamais tinha pressa para fazer algo. Queria sempre que tudo fosse bem feito — não necessariamente ao grau da perfeição, mas bom o bastante para se sentir satisfeita. Sua voz, doce, melodiava a cada sílaba e hipnotizava a todos.
Ao conhecer Ayumi, essas seriam as primeiras características que perceberia nela. Porém, ao aprofundar-se em seu universo tão singular, veria que há muito mais escondido em cada simples traço. Afinal, Ayumi também era uma pessoa que chorava. Às vezes, tudo o que precisava era de um abraço; tantas outras, queria apenas ficar só, nem que fosse por um mínimo de tempo possível. Gostava de encontrar-se consigo mesma para fazer nada, apenas pensar na vida ou olhar o mundo, sentada no mais alto ponto de seu admirável ser. Traduzia emoções nas teclas de seu piano, e sabia que muitas das notas só seriam completamente sentidas e internalizadas por ela mesma. Mas enquanto buscava alguém que a entendesse — poucos conseguiam perceber o que se passava em sua mente —, sustentava-se naqueles que quase o faziam. E esses ela chamava de “amigos”.
Mas o mais incrível era a vontade de voar que se tinha
quando se estava ao lado dela. Uma vontade infindável de ficar horas e horas
ali, conversando sobre tudo e olhando para o nada, ou para um por do sol, um
filme, ou somente para o céu, brincando de dar formas às nuvens.
Um dia – quem sabe – alguém consiga ir além do que os olhos
passam, e possa, enfim, entender um pouco mais do mundo de Ayumi, tão
humanamente comum e contraditoriamente singular.
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Certo dia, recostada numa árvore, Ayumi põe-se a pensar no
mundo que a rodeia. O vento balança seus longos cabelos e o pôr do sol
avermelha e abrilhanta sua íris costumeiramente negra. Lágrimas escorrem por
sua face, tocando seus lábios e salgando seu paladar.
A pequena menina tentava entender por que existem coisas às
quais não podemos ter controle, e por que não podemos fazer nada para mudar
certas situações. Era sempre muito difícil para Ayumi se sentir de mãos atadas,
sem saber o que fazer, o que sentir.
Ninguém a entendia melhor que ela mesma, não tinha a menor
dúvida. Então sempre que queria explicitar seus sentimentos, caminhava para o
bosque onde agora estava e repousava o corpo à sombra de sua maior cúmplice: a
natureza. Ali, sentia-se protegida e segura o bastante para dizer o que
quisesse, o mais alto ou sussurrado que fosse. Suas lágrimas continuavam a cair, de forma lenta e singela. Sentia um grande vazio em si, e não fazia a menor ideia de como preencher. Há tempos buscava uma resposta, mas mal sabia por onde começar a procurar. À medida que o sol foi se pondo, a lua subia ao céu para fazer companhia a ela. As flores abraçavam seu calcanhar e perfumavam seu redor.
Então, Ayumi se levantou. Estava farta permanecer a esmo, e
decidiu: iria viver o que a vida lhe oferecia, e isso necessitava bastar.
Decidiu que, mesmo que não achasse o algo para lhe preencher, não seria de todo
vazia. Far-se-ia autossuficiente, ou o bastante para não mais se sentir tão
mal.
Mergulhou então em seu mais lindo universo e buscou sonhos
ainda não realizados. Olhou o céu, a lua, o seu redor. Sentiu-se, por
instantes, completa, como se aquele lugar a deixasse melhor – e realmente a
deixava.
Voltou para casa. Havia se abastecido da força natural que o
momento lhe passara, e estava pronta para viajar aos céus, caso fosse
necessário, para alcançar o que agora era seu sonho maior: desvendar-se, na
antítese de um mundo simplesmente complexo — o seu próprio mundo.