quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Lar.

(trilha sonora)

Falta de ar, batimentos acelerados.

Vai começar de novo.

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As ruas dessa cidade são convidativas pela noite. Gente lá e cá, um ar fresco e calmo, um ir e vir de carros e pessoas. Tudo parece muito bem orquestrado.

Sento no banco de uma das praças, aquele meu preferido. Acima, estrelas tímidas e escondidas pelas luzes artificiais que vêm dos postes e edifícios. Ao meu lado, casais e grupos conversando, rindo e vivendo. Sentindo.

Respiro fundo --- um suspiro. Sinto o ar povoando cada avenida do meu corpo, indo visitar cada órgão, mas sempre que chega no coração acha a casa vazia, e volta.

Meus pensamentos ficam confusos. Será que tem alguém lá trancado? Eu simplesmente já não sei abrir o que sinto aos outros e me escondo num cantinho? Ou está vazia, e como aquelas casas abandonadas, todos temem chegar perto?

Mas eu lembro de alguém morando lá. Sim, costumava estar sempre bem iluminado, de janelas com flores e batimentos sadios, esse coração. Eu regava cada plantinha --- uma para cada letra do seu nome --- e as via crescer, feliz.

Porém, quando quis mostrar você aos outros, eles te fizeram murchar. Minhas tão amadas plantinhas. Minha visita preferida.

Então você se foi, e eu tranquei essa porta. Todo aquele julgamento sobre quem eu permito entrar no meu coração me fez esquecer onde eu guardei essa chave. E foi aí (agora me lembro!) que começaram os terremotos nesse meu tão amado lar.

Batimentos acelerados que faziam tremer cada metro quadrado. Falta de ar que mataram seu nome, cada letra dele.

Olho para o céu.

As estrelas continuam tímidas.

Sinto a primeira gota salgada chegar ao meu lábio --- não percebi que estava chorando. Vamos, ar: percorra as ruas de novo! Cérebro, meu tão bom aconselhador: me mostre o caminho de volta à calma! Dentro de mim, me perco e por vezes saio e nem sei onde estou...

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Levanto-me enfim do banco. Quanto tempo se passou dessa vez? Será que alguém percebeu?

Acho que é hora de voltar para casa: a grande mesmo, onde meu corpo tenta descansar. Uma última olhada ao céu, um pequeno perceber do que há ao redor.

 


O prédio onde moro, ironicamente, mostra um coração.

- Para esse coração eu sei o caminho!

Ali, de pé e a pé, começo a contar os passos até lá. Vou decorar cada centímetro até o lar! Vou finalmente saber o caminho e ensinar para o ar --- do pulmão até ali é um pulo! Quem sabe, assim, meio que sem querer, não ache a chave por aí.... Quem sabe eu entre, tire o pó das coisas, replante seu nome e vá regar de vez em quando.

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Falta de ar, batimentos acelerados.

Mas dessa vez, é por lembrar de você. É aquele sentimento bom de sentir.

Bem-vindas de volta, borboletas no estômago. Não vou deixar julgamento alheio nenhum afugentar vocês dessa vez.