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quinta-feira, 14 de abril de 2022

À Procura (Prólogo? Alguns anos antes?)

 - Cara.

- Fala aí.

- Tava pensando aqui... Faz um bom tempo que a gente não consegue ficar na paz né?

- Como assim?

- Sei lá, tipo viver sem morrer de preocupação com tudo, sem ter um mundo inteiro de problemas para resolver... Tirar férias da vida, sabe?

- Tô ligado, mas é que não tem como, né?

- Como não?

- Ué, tirar férias da vida é postergar as coisas. Tipo... Tudo bem a gente pegar um momento pra se libertar, mas não pode se iludir achando que os problemas vão desaparecer, entendeu?

- Sim sim... Disso eu sei. Eu só quero essa pausa mesmo, esse momento no topo de qualquer montanha.

- Partiu po! Bora lá! Qual?

- Sei lá... Uma bem longe daqui. Sabe mano, talvez eu queira me iludir sim... Talvez eu queira acreditar que meus problemas vão sumir. Tá tão pesado, tá tão sem fim...

- Eu sei. Ultimamente parece que a vida virou de cabeça pra baixo, né? Mas bora fugir, man! Quando voltar, com a cabeça fria, talvez a gente ache solução pra algumas coisas!

- “A gente” o quê, po?! Precisa se envolver nas minhas tretas não. Eu dou um jeito... Só preciso entender como.

- Se liga. Cê tá ligado que comigo não tem tempo ruim. Tamo junto, po! Dias bons e ruins, tipo casamento hahaha!

- hahahah... Ok, obrigado irmão. Você sempre tá ali quando precisa mesmo.

- Se não for pra isso que amigo é feito, nem sei mais pro que é.

-...

-...

- Pra onde então a gente vai?

- To pensando aqui... Tem um lugar que eu sempre quis ir.

- Onde fica?

- ... Noruega.

- QUE? Não tinha nada mais longe não? Hahaha

- Tem que ser lá, cara. Senão não conta.

- Ok Ok... Mas como a gente chega lá? Tipo, com que dinheiro? Deve ser super caro!

- Tem razão... Vamos então aqui na Cantareira mesmo, mas bora já deixar esse outro rolê na meta. A gente TEM que subir lá!

- Fechou, malandro. Então amanhã a gente faz a trilha da Pedra Grande, pode ser?

- Beleza. Te mando msg antes de sair de casa.

- Vou aproveitar e ir pra casa também, Maurício, senão amanhã não vou ter força pra andar dois passos hahaha.

- Beleza, Renato. Até amanhã!

 

(continua)

 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

À Procura (Parte 3)

[Não leu as partes anteriores? Clique aqui para ler a parte 1 e aqui para ler a parte 2. =)]



- Alô, Aline?
- Ah... Oi Sara.
- Tá tudo bem? Você vem trabalhar hoje? Já são 9 e meia e a minha parte do relatório já tá pronta. Só falta você terminar a sua parte e a gente já entr...
- Esquece isso! Preciso muito que você venha agora aqui.
- Agora? Mas, o que foi? O que aconteceu?
- Te explico depois. Por favor, pede algumas horas aí no serviço, eu tô precisando muito de alguém agora. Se eu ficar sozinha mais 10 minutos não sei o que sou capaz de fazer.
- Tá bom, tá bom! Vou avisar o chefe que você não tá bem e já tô saindo. Não faça nenhuma besteira! Tô aí daqui a pouco!

Desligo o telefone e começo a surtar. Afinal, eu só posso estar ficando louca! Ele logo vai chegar, com uma boa desculpa e já com ideias de onde iremos jantar à noite, ou falando sobre o que precisa fazer primeiro quando chegar ao trabalho. Sim, ele logo vai chegar. Ele logo vai chegar.

Ele logo vai chegar.

Por que ele não chega? Por que? Por que?

E se não voltar mais? E se me deixou aqui sozinha? 

Sozinha. Sozinha.

Minhas margaridas estão morrendo. Mas, de plantas, cuido depois.

- AONDE É QUE VOCÊ PODE ESTAR?

Alguém bate à porta. Abro rapidamente, e a Sara entra. Dar pra ver na cara dela que está meio chocada. Eu realmente devo estar parecendo louca. E sabe o que acabei de perceber?

"Daqui a pouco" é tempo nenhum quando você não está em casa.



---//--

Finalmente achei um lugar aberto para me reabastecer. A comida é barata e a água é gelada. Fazia horas que não comia nem bebia nada.

Devia ter me preparado melhor pra isso.

(Continua)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

À Procura (Parte 2)


7 da manhã. O despertador toca.

Você não está mais no quarto. Mas, tão cedo? Provavelmente está na cozinha, ou na sala. Vou ficar aqui e esperar você vir me acordar, dizer que vou perder a hora e provavelmente o trabalho se continuar atrasando todo dia, só pra sentir sua mão tocando meu rosto e seus braços me levantando da cama. Pelos pequenos raios de sol que passam pelas frestas da janela, imagino um dia sem nuvens lá fora.

10 minutos se passaram, você ainda não veio. Só pode estar no banho, ou vendo algo na internet, como sempre faz enquanto toma café. Fica ali, vendo fotos de lugares distantes e de paisagens bonitas. Você sempre diz que quer ir a todos aqueles campos, parques e florestas. Até acho bonito, mas, de flores, já bastam as do meu jardim, às quais costumo cuidar com zêlo. Ultimamente andam meio murchas. Não tenho tido tempo para elas como antigamente. Você sempre diz que preciso de mais tempo pra mim e para as minhas coisas, mas retruco dizendo que quem tem tempo demais acaba não sabendo aproveitar tempo algum.

7h15. Acho que vou levantar, pois provavelmente você está fazendo algo mais caprichado para o café da manhã e não teve tempo de me chamar. Estou tão disposta hoje! Talvez por ter dormido tão cedo ontem, logo após chegar do serviço. Nem vi a hora em que você veio deitar. Lembro-me apenas de te ver pensativo, à janela, com um olhar distante. Ultimamente, reparei que estava um tanto longe. Não perguntei nada, porque acho que logo vai passar. Sempre passa. Você sempre fica bem de novo.

7h30. Não posso esperar mais. Já estou atrasada. Você também. Por que não veio me acordar? Chego à cozinha e não há vestígios de você. Também não está na sala, nem no escritório, nem no banheiro. Seu carro está na garagem ainda. Estou confusa, onde você pode estar? Para onde foi sem mesmo comer alguma coisa? Suas roupas que separei para você usar hoje ainda estão no mesmo lugar. Não foi trabalhar?

Ligo em seu celular e não há resposta. Estou começando a me preocupar. Por favor, por favor... Aonde você foi? Por que está fazendo isso? O que tem em mente?

Passo novamente pela sala, disposta a pegar meu casaco e ir atrás de você. Contudo, algo me chamou a atenção... O computador está ligado! É mais uma de suas fotos, mais uma daquelas cidades longínquas com montanhas e trilhas bonitas que você já cansou de me mostrar.

Será que voc...


O barulho do celular tocando interrompe meus pensamentos.



(continua)

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

À Procura (Parte 1)

Esforço-me para não deixar pegadas. Não quero ser seguido. Não quero que me encontrem. 

O céu está tão bonito hoje! Posso ver as estrelas com facilidade. Hoje elas cobrem o céu quase por completo. É incrível como isso me faz sorrir sempre, não importa o que estou passando ou o que estou sentindo. À minha direita, o mar. Posso ouvir daqui o barulho das ondas quebrando na areia; o reflexo da lua tremula na água, agitada pelas brisas de verão que nessa noite se fazem presentes.

As luzes dos postes relevam minhas sombras, únicas companheiras de caminhada, que crescem e diminuem a cada passo que dou. Então, paro.

Hesito.

Uma gota quente percorre meu rosto e toca meus lábios. O gosto salgado me faz olhar pra trás, e parte de mim quer dar meia volta, quer largar a mochila no chão e correr pra você novamente. Volto minha visão bruscamente para frente. Não posso voltar mais. Não agora. Cerro meus punhos, fazendo meu máximo para enjaular meus sentimentos, a fim de não deixá-los explodir e tomarem conta de mim, levando-me a fazer exatamente o que minha razão suplica para que eu não faça.

Respiro fundo.
Acalmo-me, enfim.

Olho para as placas, que indicam que não estou tão longe do meu destino agora. As estrelas continuam no céu. As ondas do mar ainda ditam o ritmo dos passos e a brisa parece querer me empurrar para frente. Junto o que restou de mim e volto a caminhar, convicto a não deixar pistas.

Ironicamente, pistas foram tudo o que te deixei.


(continua)