A pressão parecia dissipar todas as ideias racionais de
Alexandre, que mais queria fugir que ficar. Ao mesmo tempo, sabia de seus
deveres, suas responsabilidades. Era como se quisesse ir embora para lavar a alma, mas voltar para encarar a vida de
frente. Buscava como louco uma solução para conciliar seus sonhos com sua
realidade, mas já se via com poucas opções.
Observava sua cidade de longe, sentado numa pedra no topo de
um pequeno monte. Gostava dali, pois era o lugar onde ninguém jamais pensava em
procurá-lo. Sempre que ia lá, ficava sentado por horas, apenas clareando a
mente e se encontrando consigo mesmo para colocar os sentimentos em dia.
A natureza do lugar também o fazia bem. A ideia de ver a
cidade longe lhe trazia calma, pois se sentia fora daquele vaivém constante de
pessoas irritadas em faróis, carros, metrôs, ônibus, calçadas. Não importava a
idade ou ocupação: todos, sem exceção, corriam para não perder a hora, mas perdiam
horas correndo da vida. Pensava ele que isso acontecia por medo de encará-la, de
não saber vivê-la, ou mesmo de não suportá-la.
Mas Alexandre não era diferente. Por isso estava ali,
tomando um ar para voltar à poluição.
“Talvez se eu escrever sobre isso, essa loucura passe um
pouco...”
E assim ele usava a escrita: como mais uma de suas válvulas
de escape, seu ponto alto. O papel se fazia de refúgio e também ali ele sentia
que ninguém poderia encontrá-lo enquanto estivesse submerso em sua inspiração. Naquele
dia, vomitou todas as palavras engasgadas em seu âmago. Escreveu até doer o
pulso, e depois continuou escrevendo. Havia muito a ser falado e tão pouco já
havia sido dito.
Mas rasgou o que escreveu depois.
Estava aliviado, era como se tivesse contado seus mais
guardados segredos a alguém, com a certeza que esse alguém jamais falaria nada
a ninguém. Pegou os pedaços de papel e os soltou ao ar. Dançaram monte abaixo,
sem destino certo. O vento se encarregaria de levá-los onde quer que devessem
chegar.
“Acho que é hora de eu descer também.”
Então, baniu de si o restante de sentimentos o que lhe
importunava e jurou em todas as línguas que conhecia que acreditaria sempre em
si mesmo. E aquilo deveria bastar.
“Precisa bastar. Não há outra opção”.
Levantou-se, encheu seus pulmões com o ar do alto daquele
monte e iniciou sua jornada de volta. Sentia-se pronto, mais uma vez, para
seguir em frente. Mas antes olhou pra trás, fez seu rotineiro gesto de agradecimento
e seguiu.