Cambaleando pelas ruas cinzas, ouvindo o vento uivar, Ana conseguia distinguir as gotas geladas do choro do céu juntando-se às lagrimas quentes e salgadas que pululavam de seus olhos claros, inundados em arrependimentos e angústias.
- Como pude deixar isso acontecer? Quando foi que eu me perdi de mim mesma? Quando foi que me perdi de...
Os soluços pareciam competir com sua voz trêmula e a venciam a cada fim de frase. Cada passo promovia um tropeço nas tantas palavras jogadas ao chão, enquanto outras retornavam com o vento, num eco constante de lamúria e decepção.
Mas ela continuava caminhando.
Continuava tentando vencer a interminável luta contra seus sentimentos, contra seus instintos. Ela queria só voltar a ter a vida de sempre. a ter vida. Já não sabia por quanto mais tempo sustentaria o peso de sua consciência sem que sua sanidade ficasse no caminho. Por isso se esforçava, lutava, rugia, chorava.
Por fim, caía.
Mas Ana, porém, queria a todo custo levantar-se de novo, mesmo sem segurança, mesmo sem garantia de que a próxima queda seria a última. Queria tentar novamente, ainda que só mais uma vez. Queria provar ser dona de si mesma; provar que conseguia, sim, vencer seus tantos eus que guerreavam entre si. Pôs-se, então, de pé, e buscando ordenar os pensamentos, deu o primeiro passo para fora da névoa tempestuosa de seu estado emocional.
A chuva parava aos poucos de cair. Suas lágrimas, por fim, secavam.
- Deixe como está. Preciso seguir.
Mochila de volta às costas, passado para trás. Próxima parada, o nascer do Sol. Seja lá onde isso for.
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