Após uma viagem frustrante em que nada queria dar certo, Ana, no alto de seus 10 anos, voltava para casa. No banco de trás do carro de seu pai, via a paisagem passar. Seus cabelos pretos esvoaçavam com o vento, que de seus olhos claros arrancavam as lágrimas represadas.
Marcos, o pai de Ana, olha para trás. Sente muito pela
experiência que a filha teve, e resolve tentar melhorar as coisas.
Ainda triste, Ana começa a ver a paisagem mudar em sua
frente. Um som distante, que ia ficando cada vez mais próximo, envolve-a; então
diante de seus olhos, após o carro vencer as últimas montanhas, Ana vê, pela
primeira vez, o mar.
Um sentimento único a invade e a preenche por completo. O
verde de sua Íris brilha e seu corpo instintivamente dança ao som das ondas
quebrando na praia. Sem perceber, Ana abre os braços, como se deixasse o vento
levantar seu voo até a areia.
O carro para. Ana olha para o pai, esperando aprovação. Tão
logo recebe e corre calçada afora até o início da praia. Seus pés, já descalços
(para onde voaram os chinelos?) tocam a areia macia e quente. Sente como se
agora soubesse como é pisar em nuvens, e caminha agora em direção ao mar. Todo
aquele infinito de água cristalina a fascina, e andando agora mais devagar, chega
à areia molhada. Sente os pés afundarem um pouco, e hesita. Olha para trás,
outra anuência de seu pai.
Então, sentindo-se confiante e segura, dá mais um passo à
frente, mais um, mais um. Vê uma onda alcançar seus pés, e não segura a
felicidade de sentir a água do mar, gelada, pela primeira vez na vida.
Sentia como se aquele fosse o melhor dia da sua vida, de tão
leve que se sentia. Sua inocência de criança tornava tudo ainda mais singelo. A
lágrima de alegria dela, agora, se junta ao mar.
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